[CINEMA] Review - Machete

28 de janeiro de 2011 à(s) 12:40
Realizador: Robert Rodriguez, Ethan Maniquis
Argumento: Robert Rodriguez, Álvaro Rodríguez
Com: Danny Tre
jo, Robert De Niro, Jessica Alba, Steven Seagal, Michelle Rodriguez, Jeff Fahey, Don Johnson Duração: 105 min

Review: Numa simples frase descritiva, Machete é um filme de acção chunga de qualidade, algo que muito provavelmente só poderia ter vindo do imaginário e mão-de-obra de Robert Rodriguez e sua crew. O filme é uma expansão do falso trailer apresentado na série dupla de Rodriguez e Quentin Tarantino intitulada Grindhouse (engobando os filmes Planet Terror e Death Proof, de cada um dos realizadores respectivamente e ambos filmes brilhantes).
Esta é a história de Machete (Danny Trejo), um antigo federal mexicano renegado que deambula pelas cidades e vilas do Texas à procura de trabalho após o confronto com um dos maiores traficantes de droga do México, Torrez (encarnado pela figura cada vez mais quadrada de Steven Seagal), que lhe assassinou a família. É então abordado por Michael Booth (Jeff Fahey) que lhe propõe uma missão: matar um corrupto senador (De Niro), responsável pela expulsão do Texas e assassínio de centenas de imigrantes ilegais mexicanos. Machete aceita, mas acaba por ser atraiçoado por Booth e a integrar a listas dos mais procurados pela tentativa de assassinato do senador, como parte de uma operação para ganhar o apoio geral do público para as severas leis de anti-imigração impostas pela sua campanha. Procurado pela lei e por uma agente dos Serviços de Imigração americanos (Jessica Alba), Machete junta Booth e os seus capangas à sua lista de alvos a abater (incluindo Torrez) e parte em busca de vingança, contando com um número limitado de aliados.


Machete vem perpetuar o estilo de filme de série B de “exploração” (o chamado exploitation movie) adoptado em ambos os filmes de Grindhouse (em homenagem à expressão americana utilizada para definir os antigos teatros onde eram exibidos, sobretudo, filmes deste estilo). O termo "exploitation" é comum na indústria cinematográfica, sendo usado para todos os tipos de filmes para significar promoção ou publicidade através da exploração de algo como uma grande estrela, efeitos especiais, sexo, violência ou romance; ou seja, promove a exploração, muitas vezes chocante, de um determinado assunto, dependendo fortemente de publicidade sensacionalista e exagero amplo e lúgubre dos temas representados, independentemente da qualidade intrínseca do filme, que regra geral é bastante baixa.

Porém, em minha sincera opinião, a regra geral não se verifica para qualquer dos filmes de Grindhouse e igualmente para Machete, o primeiro papel principal do actor Danny Trejo como colaborador habitual das aventuras de Rodriguez desde o filme Desperado, e um papel que, segundo o realizador, já desde essa altura lhe estava destinado. Machete tem o ritmo acelerado, as litradas de sangue e as falas profundas e foleiras que se pedem neste tipo de filme e que promovem, para quem gosta, um entretenimento garantido. Do género, “isto é tão mau que é bom”. Trejo está completamente adequado ao papel, desde a sua fisionomia de durão vingativo à destreza da sua pequena amiga machete e às suas palavras, que são poucas mas épicas na sua maioria. “Machete não manda sms”…mas improvisa, esventra pessoas, reúne motins, faz filmes pornográficos e rende as mulheres ao seu charme, tudo num dia de trabalho.

E palmas para a perseverança de Rodriguez, que convence Robert De Niro, Jessica Alba e Don Johnson a participarem nestas coisas.


O filme recebeu sobretudo críticas positivas, sendo consensualmente definido pela crítica geral como “confuso, violento, superficial e de mau gosto”, e portanto tudo aquilo que se quer para “um dos filmes mais agradáveis do Verão”.
De acordo com Trejo, as rodas já estão em movimento para a realização da primeira das duas sequelas do filme, intitulada Machete Kills, com a terceira parte da trilogia provisoriamente intitulada Machete Kills Again, ambas brevemente apresentadas nos créditos do filme.



Raquel Pereira

[LIVROS] Review - Haunted

26 de janeiro de 2011 à(s) 14:18
Autor: Chuck Palahniuk
Editora: Vintage
Páginas: 404


Sinopse: Dezassete pessoas respondem a um anúncio intitulado: “Retiro para Artistas: Abandone a sua vida por 3 meses.”, uma promessa de afastamento das distracções da”vida real” e da influência da sociedade que até agora impediram estas pessoas de criar a obra-prima literária que existe dentro de cada uma delas. Mas este retiro idílico revela-se afinal um completo isolamento do mundo exterior num velho e cavernoso teatro-museu onde os mantimentos, especialmente a comida, vão escasseando a uma velocidade alarmante. E quanto mais desesperadas as circunstâncias se tornam, mais desesperadas são as histórias que estas pessoas contam e mais tortuosas são as suas maquinações para aumentar o seu sofrimento e assim se tornarem os heróis da peça de teatro/filme/documentário que certamente será realizado após o seu salvamento.

Review: A própria dinâmica deste livro é única: cada capítulo do livro engloba um capítulo da narrativa principal (contada por um narrador desconhecido), um poema sobre uma das personagens no retiro (de autoria desconhecida) e uma história contada por essa personagem, que se conecta com a narrativa principal de alguma forma. O retiro é muitas vezes comparado (embora com consequências incomparavelmente mais desastrosas) a um outro ocorrido na Villa Diodati em 1816, uma mansão na Suiça e alegada residência temporária de Verão de escritores como Lord Byron e Mary Shelley, entre outros, e o berço de várias histórias clássicas de terror como “Frankenstein” e “The Vampire”.

Tal como é dito na contra-capa, Haunted é uma história feita de histórias: 23 das histórias mais terroríficas, hilariantes, alucinantes e repugnantes jamais escritas. Autobiográficas ou meros relatos de acontecimentos a outras pessoas, estas histórias correm um vasto leque de temas e acabam por pervertê-los na narrativa muito pouco inofensiva que apresentam, pela forma como são contadas e principalmente pelos seus conteúdos, que de tão inverosímeis mais parecem inventados…Só que nem todos, pelo menos, o são. Haunted é principalmente conhecido pela short-story “Guts”, a primeira das 23, um conto sobre três violentos acidentes envolvendo actos de masturbação. Segundo o autor, todos os três acidentes são baseados em histórias verídicas. Durante a promoção de livros anteriores, as leituras para o público desta short-story resultaram, nas próprias palavras do escritor, em 73 desmaios na audiência com consequências ligeiramente incómodas, número que continua a aumentar graças a leituras em voz alta de outros leitores para os amigos. E esta não será a mais sombria e perturbante das histórias…

Por outro lado, a história principal não lhes fica atrás. A medida que a narrativa evolui e os três meses passam, vamos assistindo a uma perversão cada vez maior das pessoas aprisionadas, uma luta desesperada de cada personagem pelo alcance de um patamar de sofrimento o mais atroz possível, da simples privação de calor, luz e comida à auto-mutilação, ao assassínio e ao canibalismo, tudo numa tentativa de alcançar a fama na partilha da sua provação com o mundo e sempre atribuindo a culpa das suas atrocidades a uma entidade demoníaca que tanto é incarnada pelo organizador do retiro como pela sua assistente.

Mais que os sentimentos de repugnância, surpresa e espanto que as short-stories me despertaram, o que mais me afecta neste livro acaba por ser as convicções que estas pessoas têm, a ânsia com que correm para o cadafalso, a sua vontade em degradarem a vida e o corpo em nome do reconhecimento social. Apesar de criarem a figura demoníaca que os torturou no retiro durante 3 meses, na verdade tornaram-se eles próprios os demónios. É obvio que estas pessoas estão loucas, insanas. Mas estão conscientes e, por qualquer motivo retorcido perderam qualquer sentido de auto-sobrevivência que faz com que, na minha opinião, o leitor reze para que nunca sejam salvas e morram sozinhas com as suas acções. É, no fundo, a forma habilidosa e provocadora como Palahniuk escreve, que mexe sempre com leitor quer ele queira quer não e que fica cravada nas nossa mente.
Raquel Pereira

[CINEMA] Review - The Wrestler (O Wrestler)

17 de janeiro de 2011 à(s) 17:28

Realizador: Da
rren Aronofsky
Argumento: Robert D.Siegel,

Com: Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel
Wood
Duração: 109 min


Review: Num dos raros momentos de qualidade cinematográfica na televisão nacional, tive a oportunidade de ver O Wrestler, o regresso de um Mickey Rourke novo, melhorado e estilosamente desfigurado ao grande ecrã.

Vinte anos após o período de apogeu da sua carreira como lutador profissional, Randy “The Ram” Robinson está a envelhecer e a decair. Vive sozinho numa roulotte, trabalha em part-time no supermercado local e faz pequenos shows de wrestling ao fim-de-semana. Precisa de óculos para ler e de um aparelho auditivo. Após um dos seus shows, sofre um ataque cardíaco que ameaça acabar com a sua carreira de lutador de uma vez por todas e decide então reconciliar-se com a sua própria vida: desistir das lutas e tornar-se num empregado de supermercado full-time, reaproximar-se da filha que abandonou na infância e formar uma ligação mais profunda com a stripper de quem gosta. Á medida que luta por esta vida e vê-se falhar miseravelmente, decide que o seu tipo de luta será apenas e sempre o mesmo: o dos ringues de wrestling.

Na altura em que se falou do filme, este não me chamou muito a atenção; nunca fui uma fã de Mickey Rourke ou vi algum dos seus filmes antigos, antes do período de afastamento do cinema para caminhos mais obscuros. Bem, claramente eu estava enganada, pois este O Wrestler é um filme extremamente bem conseguido e toda a aclamação da crítica e da indústria do wrestling, bem como as nomeações de Mickey Rourke para vários prémios (as primeiras da sua carreira) são totalmente bem merecidas. A interpretação de The Ram só não lhe valeu mesmo o Oscar da Academia (que foi entregue a Sean Penn), mas não deixou de surpreender no regresso do actor ao ecrã (num papel para o qual Nicolas Cage foi inicialmente considerado mas que foi entregue a Rourke graças aos esforços do realizador). A sua personagem junta as características de dois dos maiores ícones do wrestling nos anos 80: o longo cabelo louro, a tremenda musculatura e o abuso de esteróides de Hulk Hogan e a jogada knock-out de Randy Macho Man Savage (belo nome), apelidada de Ram Jam, que consiste no lançamento em voo da última corda delimitadora do ringue naquilo que, mal traduzido, se pode chamar de esmagamento (do adversário) com os antebraços….pois…

Uma outra curiosidade: a música “Sweet Child O’Mine” dos Guns N’ Roses, que aparece durante a apoteótica entrada de Randy no combate final, foi doada por Axl Rose aos produtores do filme divido ao seu baixo orçamento. A música “The Wrestler”, escrita e interpretada por Bruce Springsteen para o filme, foi igualmente alvo de permeações.

O Wrestler é um filme que vive muito da movimentação de Rourke e restantes personagens pelos cenários e da fluidez despretensiosa com que tudo isso é filmado onde, mesmo não existindo um ritmo rápido, a própria carga emocional e a crueldade encenada do mundo do wrestling mantêm o espectador atento e inevitavelmente ligado às personagens, principalmente, como é óbvio, a Randy. A dinâmica do filme é muito natural, tão natural que a primeira cena em que Randy está a servir ao balcão do supermercado é completamente improvisada, com Rourke literalmente a atender os clientes enquanto era filmado. Um único apontamento menos bom: o final é propositadamente um final em aberto, mesmo no último momento do KO, de forma a que o espectador decida por si mesmo o destino da personagem. Pode ser um pouco chocante para quem está a espera de ver exactamente como é que Randy endireitou (ou não) a sua vida, mas não tira definitivamente a qualidade a este filme sublime.



Raquel Pereira

[MÚSICA] Bolas de Naftalina Vai ao Baile 6 - Miscelânia musical

16 de janeiro de 2011 à(s) 18:39
No início do ano, O Bolas de Naftalina veste os trapitos da moda e vai ao primeiro baile de 2011 com um verdadeiro mix de músicas sem nenhum tema particular. Uma playlist "miscelânica" para desfrutar no relax, para os momentos de introspecção ou para abanar o capacete...Eis-la!

Stronger - 30 Seconds to Mars

Mojo - Peeping Tom
Robot Boy - Linkin Park

Crystalised - The XX

Psyche - Nouvelle Vague

Kids with Guns - Gorillaz
Blue Light (Engineers' Anti-Gravity Mix) - Bloc Party

House of cards - Radiohead

Smiley Faces - Gnarls Barkley

City with no Children - Arcade Fire

Black Sheep - Metric

I will possess your heart - Death Cab for Cutie

Vangabond - Wolfmother

Play - Flunk

Next Girl - The Black Keys

Raquel Pereira

[CINEMA] Review - Due Date (A Tempo e Horas)

14 de dezembro de 2010 à(s) 16:34

Realizador: Todd Philip
s
Argumento: Alan R. Cohen, Alan Freedland
Com: Robert Downey Jr., Zack Galifianakis, Michelle Monaghan, Jamie Foxx
Duraçã
o: 95 min

Review: Peter Highman (Robert Downey Jr.) tem que chegar a Los Angeles em cinco dias para poder assistir ao nascimento do seu primeiro filho. Devido a uma série de peripécias proporcionadas por Ethan Tremblay (Zack Galifianakis), um aspirante a actor, Peter acaba por ser alvejado, preso e proibido de viajar de avião. Sem bagagem, dinheiro e bilhete de identidade, a sua única esperança surge na forma de Ethan, que se oferece para o levar de Atlanta até Hollywood (onde espera vir a tornar-se um verdadeiro actor). Durante os dias seguintes, Peter irá arrepender-se da sua decisão, embarcando na viagem mais aterradora e agonizante da sua vida. Esta é a premissa do novo filme de Todd Philips a seguir ao brilhante The Hangover (A Ressaca), um filme de comédia no mesmo estilo do anterior, desta vez sobre uma alucinate road trip entre dois homens que acabam de se conhecer e que nada têm em comum, mas que se ajudam um ao outro quer seja para chegar a tempo ao nascimento do filho (Peter) ou para ter companhia durante uma viagem pela América com o objectivo de espalhar as cinzas do falecido pai (Ethan). Apesar de qualquer adaptação ter sido negada, as críticas mistas que o filme obteve referem muitas vezes as aparentes semelhanças do argumento com a comédia de John Huges realizada em 1987, Planes, Trains and Automobiles, onde dois conhecidos (um homem de família e um vendedor propenso a acidentes) partilham uma odisseia de desventuras para levar um deles para casa a tempo do jantar de Acção de Graças. Familiar?

Adaptação ou não, Due Date não é tão engraçado como The Hangover e poderia certamente oferecer mais. A história de uma das despedidas de solteiro mais alucinadas da história do cinema tinha o ritmo constante de comédia que Due Date não tem, e as situações eram levadas bem mais ao extremo do inverosímil, resultando numa comédia com C grande. Atenção, não estou a dizer que Due Date não é comédia de qualidade ou não entretém o espectador. Obviamente, o filme tem os seus momentos geniais (nomeadamente os estranhos hábitos nocturnos de Ethan e um descuido com uma arma carregada) e o seu grande trunfo na dupla Downey Jr. e Galifianakis, que sendo conhecidos por estilos completamente diferentes de comédia, interagem aqui de uma forma quase sempre brilhante. Galifianakis é um ponto garantido de humor na sua personagem caricaturada, um aspirante a actor, ingénuo, infantil e totalmente inapropriado, com uma obsessão pela sitcom americana Dois Homens e Meio (sim, o blog existe e não, o episódio não é verdadeiro…). Por outro lado, Downey Jr. apresenta uma personagem mais séria, com um humor mais sarcástico e por vezes irado, do qual passamos praticamente o filme todo a pensar quão coitado ele é. O filme vive, como não podia deixar de ser, inteiramente destas duas personagens (mais o adorável Sonny) com o resto a servir apenas com o pano de fundo (a mulher de Peter) e outras que nem como isso (não vejo outra utilidade na personagem de Foxx para a história a não ser proporcionar a piada do café…).

Resumindo, Due Date é um bom e eficiente filme de comédia, que talvez seja melhor aproveitado no conforto do lar à borla, para quem não acha que a experiência da sala de cinema é sempre melhor (como eu). Apenas um concelho: a ver Due Date, vejam definitivamente The Hangover (e mesmo até ao fim).
Raquel Pereira

[MÚSICA] - Ratatat

6 de dezembro de 2010 à(s) 16:58
Bem sei que não tem havido artista da semana nos últimos tempos, mas aproveito este momento, a propósito de nada, para dar a conhecer uma novidade no meu limitado conhecimento musical: os Ratatat (aparentemente pronuncia-se rat-uh-tat e avisa-se que as semelhanças com ratinhos cozinheiros fofinhos acabam precisamente nas primeiras letras do nome da banda).

Ratatat apresenta-nos os talentos do duo nova-iorquino Mike Stroud e Evan Mast, com o último igualmente responsável pela produção discográfica. Stroud e Mast conheceram-se quando eram estudantes, mas só começaram a trabalhar juntos em 2001, sob o nome artístico Cherry.

O álbum de estreia como os agora famosos Ratatat, intitulado com o mesmo nome da banda, foi escrito e gravado no apartamento de Mast e no PowerBook de Stroud, constituindo uma mistura inteiramente instrumental de guitarra, baixo e sintetizadores. Seventeen Years foi o primeiro single deste álbum, lançado sobre a alçada da editora de Mast e do irmão, a Audio Dregs. Mais tarde assinaram pela XL Recordings, que mantêm como editora até hoje. Após o álbum Ratatat, seguiram-se Classics (2006), LP3 (2008) e LP4 (2010). Respectivamente em 2004 e 2007, lançaram por conta própria o primeiro e segundo volumes de Ratatat Remixes.

São notórios pela atmosfera das suas performances ao vivo, muito semelhantes às das bandas de rock psicadélico dos anos 60, providenciando espectáculos de luzes e cores projectadas num ecrã com clips de filmes aleatórios à mistura. A vibe não podia assentar melhor ao tipo de música destes rapazes, uma parafernália electrónica cujo estilo é um pouco difícil de definir e que muitas vezes mais parece uma trip de cogumelos mágicos (e eu só ouvi isto na segurança do sótão de minha casa. Sem cogumelos), mas que no final é no mínimo agradável e no máximo sublime. Na minha opinião, faz parte daquele grupo de músicas que gostamos de por a tocar quando estamos entretidos com outra coisa qualquer (não a tripar), mas que de repente nos chama a atenção pelo quão fixe aquela música é. Muito bom, sem dúvida.

A título de curiosidade, os Ratatat têm integrado as tours de vários artistas conhecidos, tais como Bjork, Daft Punk, Interpol, Franz Ferdinand ou The Killers. Em Outubro de 2006, tornaram-se na primeira banda a realizar um espectáculo público no interior do Museu Guggenheim em Nova Iorque.

Portanto, estimado público, aqui os têm: os Ratatat!

Raquel Pereira




[LIVROS] Review - Stiff: The Curious Lives of Human Cadavers

16 de novembro de 2010 à(s) 21:45

Autor: Mary Roach
Editora: Penguin
Páginas: 304

A curiosidade para ler Stiff: The Curious Lives of Human Cadavers (ou A Vida Misteriosa dos Cadáveres – um titulo que soa bem melhor no original, ao estilo Benjamin Button…) surgiu da análise de uma de muitas listas de livros que supostamente devemos ler antes de morrer. A premissa de uma viagem pelas várias utilizações de cadáveres humanos despertou a minha curiosidade mórbida (todos a temos, não duvidem) para ler o livro de Roach, a minha primeira incursão pela não-ficção.

Primeiro que tudo, há que tirar o chapéu a Mary Roach, que (lá está) tem curiosidade mórbida a rodos, no seu caso bastante acentuada, dada a sua longa pesquisa pelos meandros do mundo científico à descoberta das muitas histórias protagonizadas por cadáveres pelo mundo fora. E claro, há ainda que admirar o estômago forte que lhe permite assistir contentemente a muitas dessas situações no meio do palco onde se desenrolam, ainda que como espectadora, sem qualquer pudor para fazer as perguntas mais incómodas. Com uma capacidade de escrita e uma veia de humor negro que consegue manter-nos acordados (e interessados) perante o relato de puros factos científicos (com especial atenção a notas de rodapé impagáveis, às quais damos graças pelos devaneios da autora que muitas vezes não estão propriamente relacionados com o tema…), Roach apresenta-nos a “juicy stuff”, os pormenores sórdidos, os mitos e os factos em volta do processo de decomposição humana, das experiências de dissecação e o roubo de sepulturas, dos testes de automóveis e de balística, da doação de órgãos e transplantação, da utilização medicinal de partes humanas (sim, canibalismo!) e das várias opções para o último local de descanso dos nossos “restos mortais”.

É claramente uma obsessão pouco comum e acabo por me questionar se Roach será totalmente normal (ela própria chega a referir algumas reacções constrangedoras ao tema), mas quem sou eu para julgar se comprei e li o livro de livre e espontânea vontade? Stiff é provavelmente o livro que mais me levou a fazer caretas de repugnância para as páginas, mas é capaz de ser um dos mais interessantes livros de não ficção que virei a ler. Para qualquer pessoa que o deseje saber (e cuidado com o que se deseja), este livro é como que uma brochura para o futuro do nosso querido cadáver: doação à ciência? Um enterro ecológico? Plastinação? Está tudo aqui ao vosso dispor, para o bem ou para o mal.

Raquel Pereira

[MÚSICA] Bolas de Naftalina Vai ao Baile 5 - Edição Natal Alternativo

14 de novembro de 2010 à(s) 13:03
Ahhhhhh ainda nem a meio de Novembro vamos e já temos de gramar com versões oleosas do White Christmas pela Mariah Carey e respectivos sucedâneos... que alegria... not. Portanto O Bolas de Naftalina vai ao baile na véspera de Natal com uma playlist que os paizinhos provavelmente não vão gostar. Desfrutai!


[CINEMA] Review - Zombieland (Bem-vindo à Zombieland)

7 de novembro de 2010 à(s) 16:03

Realizador: Ruben Fleischer
Argumento: Rhett Reese, Paul Wernick
Com: Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Emma Stone, Abigail Breslin, Bill Murray
Duração: 88 min

Review: Zombieland é bem capaz de ser um dos melhores filmes de comédia de terror que já vi, se possível suplantando o incomparável humor inglês que criou Shawn of the Dead. Uma pequena rodagem de 42 dias e um filme de menos de hora e meia conseguem perfeitamente encher-nos as medidas em termos de violência, gore, momentos WTF e gargalhadas sentidas, o que só abona a favor desta pequena peça de cinema.

O cenário é típico: a população terrestre foi devastada quase na totalidade por um vírus aparentemente relacionado com a doença das vacas loucas, tornando-a numa horda de zombies sedentos por carne humana. Apenas um punhado de humanos resiste, incluindo Columbus (Eisenberg), um estudante da universidade do Texas que tenta viajar pela América infestada até à sua casa em Columbus, Ohio, onde espera encontrar os pais vivos. Columbus é o típico geek outsider que nunca consegue a rapariga e que passa o tempo a jogar World of Warcraft e que agora tira proveito das suas várias fobias em prol do cumprimento de uma lista de regras de sobrevivência na “Terra dos Zombies”. Na sua viagem juntam-se-lhe Tallahassee (Harrelson), um cowboy bad-ass cuja única determinação, para além do extermínio de zombies, é encontrar o último Twinkie à face da Terra, e as irmãs Wichita e Little Rock (Stone e Breslin), uma dupla solitária que tenta chegar a um dos únicos locais livres de mortos-vivos.

Columbos vai assim narrando a sua aventura, nunca se esquecendo de aconselhar o espectador incauto (exercitar-se, “disparar” sempre duas vezes, verificar os lugares detrás do carro, não ser um herói….a maioria do tempo). No meio de diálogos brilhantes sempre vamos tendo o ocasional confronto com um monstro sedento a grunhir e a vomitar sangue ao qual contentemente arrancamos um pedaço por via de caçadeira, banjo, porta de carro ou até piano em queda livre. A banda sonora também não é nada má; For Whom the Bell Tolls dos Metallica assenta que nem uma luva às primeiras cenas em slowmotion em que zombies, pessoas e objectos são projectados de encontro aos créditos iniciais. E somos presenteados com um cameo de Bill Murray (que parece ultimamente ter encontrado um estilo fixo de participação em filmes) interpretando uma versão parodiada de si mesmo e que obviamente só pode levar a momentos preciosos e bizarros (a titulo de curiosidade, este foi um papel oferecido a diversos outros actores como Joe Pesci, Mark Hamill, Dwayne Johnson, Kevin Bacon, Jean-Claude Van Damme e Matthew MaConaughey).
Um bom filme de entretenimento a não perder, uma lufada de ar fresco na paródia ao terror depois de 300 mil filmes do Scary Movie, onde o teor das piadas chega a ser bem mais inteligente. “Welcome to the United States of Zombieland”.


Raquel Pereira

[CINEMA] Review - Hard Candy

25 de outubro de 2010 à(s) 16:46

Realização: David Slade
Argumento: Brian Nelson

Com: Patrick Wilson, Ellen Page

Duração: 100 min


Review: Um dia, muito depois de ter ouvido falar dele, decidi ver Hard Candy. Conhecia à partida a permissa do filme e a suposta controvérsia à roda da história, bem como um conjunto de críticas que variam desde a aclamação de uma obra-prima ao rótulo de pior filme do ano e uma experiência a evitar a todo o custo. Muita referência a uma suposta cena que fará muito bom homem remexer-se desconfortavelmente na sua cadeira/sofá durante uns bons 20 minutos. Muita discussão na dinâmica e desenvolvimento das personagens e na interpretação dos actores.


Bem, Hard Candy é efectivamente um filme controverso, total e absolutamente sustentado pelas duas únicas personagens necessárias à história (nenhuma outra tem um tempo de antena superior a 2 minutos): as peripécias do primeiro e último encontro de um fotógrafo solitário com tendências implicitamente pedófilas com a não-tão-inocente rapariga de 14 anos com quem têm mantido contacto pela internet. A velha história dos perigos das chatrooms e a confiança com estranhos que nos querem conhecer pessoalmente é completamente pervertida quando damos por nós a pensar nos perigos de dar confiança e marcar encontros com os objectos adolescentes da nossa perversão.
Não, não temos pena do fotógrafo giro que levou a menina para a sua casa onde as paredes estão decoradas com as fotos tiradas às suas modelos adolescentes e onde passa o primeiro interlúdio desse encontro a flirtar à grande e à francesa com a rapariga engraçada, jovial e curiosa. Porque, bem, se ele embarcou nesta situação, qualquer coisa não pode estar bem. Mas até ao ponto em que uma verdade feia é posta a descoberto pela força ou pela submissão, perguntamo-nos se esta rapariga não será completamente doida, para além de bastante sádica, e está apenas a ver aquilo que quer num simples homem inocente. E mesmo quando essa inocência é afinal estilhaçada e a perversão é exposta, não conseguirmos deixar de nos contorcer perante os 90 e tal minutos do inferno pessoal que é imposto a este homem pela sua suposta “vítima” (se nem temos direito a ver as fotos comprometedoras que “libertam a fera” de Page, como é possível compactuarmos com ela? É um puro caso de tentar separar um mal abstracto do o que está realmente a acontecer à frente do espectador, o que é bastante difícil).

Resumindo, na sua primeira incursão no cinema depois da experiência dos videoclips, David Slade apresenta-nos a história pouco comum (alarmantemente provinda do imaginário de Nelson, um senhor que até parece normal), sem dúvida com brilhantes interpretações de Page e Wilson (que sabe suplicar muito bem…) e minimamente envolvente e ritmada para manter o espectador interessado (graças a Deus pela ausência de diálogos compridos e sem sentido). É só que, apesar de ser culpada por gostar dos filmes que à partida são controversos e perturbadores, tenho a sensação de que se não fossem as cenas mais hard-core (como a da cirurgia caseira e o “pós-operatório” revelador) e as cenas climáticas (a última conversa no telhado), não haveria muito de Hard Candy que ficasse connosco depois de o vermos.


Raquel Pereira